portugues espanhol ingles
Alerta sobre Abandono marca campanha abril laranja do CRMV-RS 
27/04/2022

O abandono é uma das formas mais cruéis de maus-tratos. E, por incrível que pareça, muitas vezes, tutores abandonam seus pets por desconhecer comportamentos específicos de cada espécie. Gatos são abandonados porque arranham móveis, ou miam demais; os cães, porque latem demais, roem móveis ou fazem cocô e xixi fora do lugar. Por isso, durante o Abril Laranja, mês de prevenção aos maus-tratos contra os animais, o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul (CRMV-RS) lança a campanha Abandono também é maus-tratos.

 

O presidente do CRMV-RS, Mauro Moreira, destaca a importância de os tutores conhecerem as peculiaridades da espécie que desejam adotar, para que o comportamento natural dos animais não se torne um problema. “É muito comum ocorrerem casos de abandono, pelo simples fato dos tutores não conhecerem a espécie que escolheram como pet”, disse Moreira. 


Seja um pet doméstico ou silvestre, o importante é conhecer suas peculiaridades, demandas e formas de comportamento. A médica veterinária Fernanda Rossi, que atua em clínica comportamental de cães e gatos, destaca que alguns comportamentos dos cães, que podem ser entendidos pelos tutores como represália ou vingança, às vezes por ter ficado sozinho, ou mostrar que está insatisfeito com alguma situação, pode acontecer por diversos fatores.

 

“As mordidas em móveis, destruição de coisas em casa, calçados, controle remoto, urinar fora do local apropriado podem ser em função de uma rotina sem enriquecimento adequado para o cão, sem atividades que ele possa exercer os comportamentos naturais da espécie”.

 

Ela aponta que os cães vieram dos lobos e que por isso ainda conservam a necessidade de explorar o ambiente, usar o olfato, cavar, destruir coisas, ainda pela situação de comer carniça, dos seus antepassados. E como minimizar essas situações? O primeiro passo é entender o que está por trás desse comportamento, o que o motiva e depois aplicar o manejo adequado.

 

“Saber se é o caso de uma rotina sem atividade, empobrecida, ou comportamento de ansiedade; se é dificuldade de ficar sozinho, se é por ser filhote, se está trocando os dentes, ou aprendendo a utilizar o banheiro no lugar certo”, diz Fernanda. Se ele estiver mordendo, podemos incentivá-lo a roer coisas adequadas, ossinhos, vísceras desidratadas, frutinhas e legumes congelados. Se está latindo, é preciso identificar se é por falta de atividade, porque tem algum estímulo passando na rua ou se há outros cães latindo na volta.

 

“É preciso entender que o latido é uma forma de comunicação do cão e que ele vai latir em algum momento. É importante entender o que está por trás”. Em relação à urina, existem alguns protocolos que podem seguir como estabelecer horários de alimentação para o cão e de fazer a eliminação dele, xixi e cocô. 

 

Gatos
 

Em relação aos felinos domésticos, a médica veterinária Lauren Margoni, que presta atendimento clínico comportamental, diz que as maiores queixas dos tutores são sobre arranhadura fora do local apropriado, como em sofás e camas. “Uma saída é oferecer um local que o gato possa e que ele goste de arranhar: um arranhador da textura, como papelão, carpete, sisal, materiais que ele consiga afiar as unhas em locais apropriados”.

 

É importante que o arranhador não fique num local escondido, mas sim onde o gato circule bastante, como locais de passagem. Também não pode ser um arranhador que fique cambaleando quando o gatinho for se espichar. Tem que ser bem firme, em locais como esquinas do sofá, esquina de um corredor. “Também podemos utilizar feromônios para evitar que o gato arranhe naquele local onde ele está arranhando”, explica Lauren.

 

Sobre os miados, a médica veterinária diz que em muitos casos é uma forma de pedido de atenção, que geralmente acontecem na madrugada. “Muitas vezes, escuto relatos dos tutores como “ele me pede ração cada vez mais cedo e aí eu levanto”. Na verdade, a gente está ensinando para o gato que esse comportamento está adequado, porque quanto mais ele solicita, mais a gente vai ficando intolerante com aquela solicitação e acaba cedendo o que ele quer”.

 

Lauren explica que os gatos ainda estão em processo de domesticação, de aprender a conviver com humanos, dentro de casa, sendo considerados como seres semi-sociáveis ou  semi-domesticados, então muitos dos comportamentos que eles apresentam dentro de casa são baseados em comportamentos que eles teriam em vida livre.

 

“Por isso precisamos adequar o nosso ambiente como se o gato vivesse em vida livre: eles arranham em árvores e marcam o território deles com arranhadura”. Outra queixa frequente é em relação a brigas entre gatos e, em muitos casos como consequência, a eliminação em locais inapropriados.

 

“Em geral, eles não vivem com outros gatos, mas sim sozinhos em vida livre. Então quando a gente coloca gatos para dentro de casa, a gente tem que entender que a natureza dele está exigindo esses comportamentos, que para muitos tutores são considerados como inapropriados ou inadequados, como urinar fora do lugar”. 

 

Sobre essa questão, Lauren explica que é preciso avaliar se esse gato não tem alguma doença por trás dessa eliminação, porque não é natural os gatos urinarem em camas, sofás ou tapetes de banheiro. Excluída a possibilidade de alguma doença, é preciso voltar na história do gato e pensar que não é da natureza dele viver com outros gatos.

 

“O que a gente vê são casas com pelo menos dois, três, ou mais gatos, que às vezes têm um ou dois banheiros, localizados em lugares que o gato não curte muito, ou tem acesso difícil, ou tem algum barulho na volta”. Então, é preciso oferecer recursos adequados para esse gato, como caixinhas de areia grandes, com uma areia que ele goste de utilizar. 


 
Silvestres


A médica veterinária, Moira Ansolch, que trabalha com animais silvestres, diz que entre as principais causas de abandono e entregas voluntárias (em centros de triagem ou outros empreendimentos licenciados, como zoos e criadouros conservacionistas) estão: arrependimento dos tutores e comportamentos indesejados ou quebras de expectativa.

 

“Muitas vezes, a aquisição é feita por impulso e depois, a pessoa percebe que o animal exige cuidados e atenção que ela não pode dispensar. Ou ainda, não obtém aprovação do restante da família. Em alguns casos, quando a aquisição é ilegal, a pessoa fica com medo de ser denunciada”, diz Moira. 

 

Sobre os comportamentos naturais que incomodam os tutores, ela cita o canto dos psitacídeos como araras e papagaios, que fazem barulho, em horários muitas vezes inapropriados. “Para outros tipos de aves, nem sempre os condicionamentos para fala, canto ou mansidão geram o efeito esperado”. 


Sobre os répteis como serpentes, iguanas, jabutis e tartarugas, o arrependimento ocorre pelo fato de esses animais não darem o mesmo tipo de retorno afetivo que um cão ou gato. Desta forma, os tutores se decepcionam quando o animal não os procura ou não tem reações efusivas com sua chegada. Além disso, tem a questão do tamanho dessas espécies, que crescem e se tornam incompatíveis com o tamanho da casa que habitam.

 

“Jabutis, iguanas, tartarugas, serpentes podem atingir tamanhos consideráveis e nem sempre o tutor está preparado para isso. Iguanas, por exemplo, que são compradas filhotes pouco maiores do que uma lagartixa, podem atingir dois metros de comprimento. Um animal grande, com unhas capazes de gerar ferimentos profundos e exigências de ambientação e dieta tão específicas, costuma não ficar por muito tempo com o mesmo tutor”, diz Moira.

 

A longevidade de algumas espécies também acaba sendo um fator que leva ao abandono. Quando uma pessoa adquire um jabuti ou um papagaio ela não entende que o animal possa ter uma expectativa de vida maior que a sua.

 

“São muito frequentes os casos em que o tutor morre e ninguém da família se dispõe para seguir cuidando do animal. Estes animais sofrem e têm muita dificuldade de se adaptar ao convívio com indivíduos da mesma espécie em locais como zoos ou criadouros”.


Você pode acessar as artes da campanha disponíveis para download gratuito, no formato A4 para imprimir e para redes sociais, clicando aqui.