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20 de Novembro: Dia da Consciência Negra
20/11/2020

A publicação sobre o Dia da Consciência Negra já estava finalizada quando, na véspera do dia 20 de novembro, mais um caso de violência contra uma pessoa negra foi registrado. João Alberto Silveira Freitas, de 40 anos, foi brutalmente assassinado por dois homens em uma unidade do supermercado Carrefour, no bairro Passo d’Areia em Porto Alegre. 

 

O dia de hoje traz diversas discussões pertinentes às questões raciais e ao preconceito, bem como as diferentes formas de expressão do racismo. Assim, o Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul (CRMV-RS) provoca o debate: ainda são poucos os profissionais da Medicina Veterinária e da Zootecnia negros (pretos ou pardos) no Rio Grande do Sul. Para aprofundar a discussão, conversamos com a zootecnista Vitória Rodrigues e com o médico veterinário Richard Alves.

 

Apesar de não haver dados precisos relacionados ao tema, a vivência dos profissionais da área chama atenção para essa realidade. De acordo com dados do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), em 2016, a população negra correspondia a 54,9% da totalidade no Brasil. No Rio Grande do Sul, também em 2016, a porcentagem era de 18,2% em relação ao total de gaúchos. No ensino superior, por exemplo, no terceiro trimestre de 2019 no Estado, o número de negros cursando ou já concluintes em alguma graduação correspondia a 13,37%, enquanto de brancos, 30,15%, conforme a Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) do IBGE.


Números ainda são baixos na Medicina Veterinária e na Zootecnia

 

Conforme levantado pelo Conselho, na 21 instituições de ensino que ofertam o curso de Medicina Veterinária no Rio Grande do Sul, não há nenhum coordenador de curso negro. O mesmo acontece nas seis faculdades de Zootecnia do Estado. Além de isto trazer uma reflexão sobre a representatividade de profissionais pretos em cargos de gestão, também comprova mais uma vez o baixo número de profissionais nestas áreas. Mesmo com a inclusão da Lei de Cotas desde 2012 nas universidades, o número ainda é baixo.

 

Esta é a realidade vivenciada pela zootecnista Vitória Rodrigues, formada pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e mestranda em Saúde Animal no Instituto de Pesquisas Veterinárias Desidério Finamor (IPVDF). "Ingressei no curso juntamente com outros dois colegas pretos, éramos três em uma turma de 25 alunos. Nas outras, não haviam colegas negros. Em muitas cadeiras eu era a única preta da minha turma", relatou. Situações de racismo, infelizmente ainda tão presentes no dia a dia, também aconteceram com Vitória. "Sempre fui bem tratada nos lugares onde estagiei, mas na universidade uma vez ou outra ouvia piadas de alguns colegas. Um fato me marcou: em uma conversa, uma colega pediu que eu me calasse, caso contrário, iria para o tronco", contou.

 

Vitória também é exceção no programa de pós-graduação que é aluna entre colegas e professores. "Ainda somos minoria estudantil e profissional, em um país onde somos quase maioria populacional. Em todo o caminho que o preto trilhe, haverá alguém duvidando da sua capacidade", finalizou.

 

Na Medicina Veterinária, apesar de haver mais instituições de ensino que ofertam o curso, bem como profissionais formados, a situação também não difere muito. O médico veterinário Richard Alves, servidor da Secretaria de Agricultura do Estado, relata que na sua época de formação, em meados de 1999, os alunos pretos e pardos na UFRGS eram menos de 10 entre os mais de 400 que cursavam a Medicina Veterinária. "Era fácil ser reconhecido lá", afirmou. Alves também comenta que conhece poucos colegas negros na área. "Ainda somos poucos, mas quando voltei à UFRGS para fazer mestrado, já dava para ver mais negros. Lembro de ter ficado bem feliz."

 

Questionado sobre situações de racismo, o médico veterinário conta que nunca recebeu tratamento diferenciado por onde passou pela sua cor, mas acredita que coisas possam ter acontecido sem o seu conhecimento. "Uma vez, participei de uma seleção e fui o primeiro colocado na prova escrita e na entrevista. Perdi a vaga para um estudante de Medicina. Espero não ter sido eliminado por ser negro, mas foi tanta dedicação para passar na prova, que é dificil acreditar que estivesse em um dia tão ruim assim", comentou.

 

O racismo existe e acontece todos os dias. Se você não é negro, com certeza conhece algum que já passou por esse tipo de situação inadmissível. É nosso dever combater atitudes como essas todos os dias. O racismo é crime e deve sempre ser denunciado. Atitudes racistas não devem mais ser toleradas e os responsáveis precisam ser punidos. 

 

No Dia da Consciência Negra, a mensagem deixada pelos dois profissionais consultados para este texto, é a mesma: não é e não será fácil. "Estudo e se qualifique muito. Nossa sociedade precisa de representatividade negra", aponta o médico veterinário Richard Alves. Para finalizar, a zootecnista Vitória Rodrigues cita o ex-presidente americano Barack Obama: "A mudança não virá se esperarmos por outra pessoa ou outros tempos. Nós somos aqueles que estávamos esperando. Nós somos a mudança que procuramos".

 

Casos de injúria racial em 2018 no Rio Grande do Sul - 1.507 (Fonte: Anuário da Segurança Pública).

No Rio Grande do Sul, a taxa de pessoas negras assassinadas subiu de 27,7 para 28,4 na última década (Fonte: IPEA e Fórum Brasileiro de Segurança Pública).





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