Os números dão a dimensão da gravidade da situação: bilhões de pássaros morrem por ano ao bater em vidros transparentes ou refletivos, cada vez mais utilizados na parte externa de prédios comerciais e edifícios residenciais. O problema tem se agravado com o aumento do uso de placas de vidro em substituição aos muros em casas. Em ambos os casos, as aves não reconhecem as vidraças como obstáculos a serem desviados e acabam colidindo.
Para se ter uma ideia do problema, acidentes assim podem até mesmo extinguir uma espécie, como alertam a American Bird Conservancy e National Audubon Society. Segundo as entidades, somente nos Estados Unidos e no Canadá, 1 bilhão de aves morrem todos os anos ao colidirem com vidros. Na Europa, são cerca de 250 mil mortes por dia.
O Brasil não tem estatísticas a respeito, mas estima-se que o número seja gigantesco levando em conta a taxa de urbanização, que quase triplicou em 60 anos: passou de 31,2% em 1940 para 84,3% em 2010, de acordo com Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
Mas como resolver a situação?
O Conselho Regional de Medicina Veterinária do Rio Grande do Sul (CRMV-RS), por meio de sua Comissão de Bem-Estar Animal (CBEA), apresenta dicas simples e eficazes. Colar nos vidros adesivos ou películas transparentes com elementos desenhados é uma alternativa. Manter persianas e cortinas fechadas também previne acidentes.
Outra alternativa é fazer pinturas nas vidraças. Há ainda a possibilidade de optar por vidros escuros e não refletivos. “O importante é ter uma sinalização que mostre às aves que há um obstáculo em seu caminho. Isso as faz desviar, minimizando a ocorrência de choques”, explica a médica veterinária Luelyn Jockmann, coordenadora da CBEA.
Caso um passarinho colida com o vidro e sobreviva, é possível ajudá-lo sem ter que esperar que morra a própria sorte. Pegue uma caixa de sapatos, por exemplo, e faça alguns furos. Em seguida, coloque-o dentro dela e leve-a para um ambiente silencioso para que o pássaro se acalme. “As aves são muito sensíveis e podem morrer não só pela batida, mas também pelo estresse e manipulação”, orienta Luelyn. Espere pelo menos 20 minutos para tentar soltá-lo, abrindo a tampa da caixa do lado de fora do lugar em que o animal sofreu o acidente.
Caso o pássaro não voe passados os 20 minutos, procure um médico veterinário especialista em animais silvestres para orientá-lo. Muitas vezes são filhotes aprendendo a voar, e em alguns dias, com tratamento adequado, já estarão aptos a serem reintroduzidos na natureza.
“Fomos nós que construímos janelas e portas de vidro, portanto, a culpa por esses acidentes é nossa, seres humanos, que interferimos na natureza”, aponta a médica veterinária, ao lembrar que a vida é um direito fundamental garantido. “Se todos fizerem a sua parte e respeitarem o direito à vida de qualquer espécie, seja humana ou animal, teremos um mundo melhor”, destaca.